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Mensagem: O espírito democrático de Toninho O prefeito Antônio Lafetá Rebello governou Montes Claros, em seus dois mandatos (1967/1970 e 1977/1982) durante o regime militar. Apesar de muitas vezes até certo ponto intransigente, extremamente disciplinado e exigente, em ocasiões até meio ´ditador´, Toninho na verdade era um democrata por natureza. Não aparentava, mas era. Tive provas disso em muitas ocasiões. Uma delas, conhecida de todos, foi quando escolheu o jovem vereador Pedro Narciso, do MDB e de tendências esquerdistas, para exercer a liderança de seu governo na Câmara Municipal. Toninho era reconhecido como de direita, até por ter sido antigo udenista e por ser fazendeiro rico, mas se enquadraria melhor como um social-democrata. O MDB tinha quatro vereadores e a Arena, amplamente majoritária, contava com onze. O prefeito Antônio Lafetá Rebello, então, não necessitava do MDB para aprovar seus projetos. Ainda assim, indicou Narciso para seu líder, atitude inexplicável para muitos, mas o que era um forte indicativo de sua natureza democrática. Com sua indicação, impediu que a minoria fosse esmagada pela maioria, criando um clima beligerante na Câmara Municipal, o que naquele momento de reconstrução da cidade, seria pouco producente. Sua atitude chegou até a criar alguns ciúmes, naturais, entre os vereadores de sua bancada, mas ele sempre soube contornar os problemas com sua indiscutível liderança. Mas a maior prova de seu espírito democrático aconteceu em seu segundo mandato, quando sofreu uma campanha até certo ponto difamatória do vereador Luiz Tadeu Leite (que em 1982 se elegeria prefeito). Tadeu tinha sido o vereador mais votado da cidade, com mais de três mil votos, conseguidos graças a um programa de muita audiência que comandava na ZYD-7, na época a única emissora de rádio da cidade. O programa ´Boca no Trombone´, no horário da manhã, era ouvido em toda a cidade, principalmente nos bairros mais periféricos (na época a televisão ainda era produto de luxo). Não tinha obra que Toninho fizesse que Tadeu não criticasse. A Avenida Sanitária (Deputado Esteves Rodrigues), em construção, para o vereador emedebista não passava ´de uma avenida de pista dupla para os ricos passearem de carro´. O novo terminal rodoviário, também em construção, na visão de Tadeu só serviria para os ricos, pois de tão longe, os pobres não teriam como pagar táxi para chegar ao local. Populista e demagogo, Tadeu visitava os bairros todos os dias, anotava as queixas da população, e fazia cobranças em seu programa, de forma veemente. Muito inteligente e profundo conhecedor da programação de obras da prefeitura, cobrava sempre o que ele sabia que logo seria feito e assim ficava com o mérito da obra. ´Viu, dona Maria, foi só a gente pedir e a prefeitura já resolveu o problema. Me espera aí que amanhã vou tomar um cafezinho com a senhora´, era o que mais se ouvia em seu programa. Toninho trabalhava e Tadeu ganhava votos, engabelando o povo. Elias Siufi, diretor da ZYD-7, várias vezes procurado por pessoas ligadas à administração municipal, indignadas com a campanha difamatória que Tadeu fazia contra Toninho, preferia não tomar qualquer providência. Ele não entendia as críticas de Tadeu como ataques gratuitos a um governo que podia ter seus defeitos, mas que trabalhava incansavelmente para o desenvolvimento do município, como nenhum outro até então trabalhara. Tadeu na verdade fazia campanha política abertamente, nunca jornalismo sério e independente. Elias, mesmo amigo de Toninho, preferia prestigiar seu funcionário, cujo como prefeito pagaria o favor, colocando Elias como seu secretário (gestão 2008/2012). Com as eleições se aproximando, assessores de Toninho sentiam que Tadeu crescia e incomodava cada vez mais com suas críticas mentirosas. Começaram então a buscar formas de calar o radialista. Como Elias não resolvia o problema preferindo apoiá-lo incondicionalmente, chegaram à conclusão de que o jeito seria apelar para o empresário João Saad, presidente e proprietário do grupo Bandeirantes, do qual a ZYD-7 fazia parte. O canal para chegar até Saad seria o governador Francelino Pereira, amigo de Toninho e interessado direto nas eleições de 1982. Para comunicar a Toninho o que havia sido decidido, convocou-se uma reunião na prefeitura, no gabinete do próprio prefeito. Participaram alguns secretários municipais (Guarinelo, Vivaldo, Joel, Chico Pereira e Ubirajara Toledo), vereadores da situação (se não me engano, Augusto, Aristóteles e Geraldo Machado) e o vice-prefeito Crisantino Borém. Quem abriu a reunião foi Vivaldo Macedo, explicando que não era possível continuar aceitando que Tadeu permanecesse desmoralizando a administração em seu programa de rádio, sem que algo fosse feito. Era preciso tomar uma providência para calar as mentiras. A solução que encontramos foi ir diretamente ao João Saad, para que ele interfira e mande a ordem para demitir Tadeu. Ele não vai deixar de atender a um pedido do governador. É o jeito de ficarmos livres desse bandido, que está crescendo as asas à custa das nossas obras. Tudo o que a gente faz ele assume a paternidade. E o povo acredita. O que você acha, Toninho? Podemos tocar a idéia para frente? Aí veio a surpresa geral. Toninho não concordou. Ao contrário, deu uma tremenda bronca em todo mundo: - quer dizer que vocês querem incomodar o governador, fazer um pedido absurdo desse para o João Saad, para calar um menino que está aí apenas trabalhando, certo ou errado, mas trabalhando. Ele é vereador e jornalista, tem o direito de criticar. Se acharmos que ele está errado, e tenho certeza de que está, temos que ter a competência para mostrar ao povo que ele é um demagogo e mentiroso. Não podemos deixar é que ele seja mais competente do que nós. Mas tomar-lhe o emprego não é correto. Até porque ele ficará como vítima, com inteira razão. Reunião encerrada, todo mundo enfiou o rabo entre as pernas e cada um foi cuidar de suas obrigações. Por causa do espírito democrático de Toninho, o que fazia parte de seus princípios, Tadeu continuou com seu programa de rádio, mentindo e engabelando o povo. Por sinal, mentiria e enganaria o povo com seu discurso populista por muitos e muitos anos. Eleger-se-ia prefeito por três vezes, do que se pode concluir que o povo gosta mesmo é de ser enganado. Além de prefeito, Tadeu foi também deputado federal e estadual, e secretário estadual de Justiça, no governo Itamar Franco, se não me falha a memória. Teve uma trajetória política invejável. E hoje eu me pergunto: será que tudo isso teria sido possível se naquele dia Toninho tivesse concordado em pedir a João Saad a cabeça de Tadeu? (Extraído do livro ´Toninho Rebello, o Homem e o Político´, de Ivana Rebello e Jorge Silveira, lançado em Montes Claros na noite de 25 de fevereiro)
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