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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 18 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Charles Emerson Bispo Nos anos setenta e oitenta, um advogado novo se destacou em algumas Comarcas do Norte de Minas: Charles Emerson Bispo. Enveredando-se pelo Direito Eleitoral, chegou a pertencer ao colegiado de advogados do PDS, o maior Partido Político do Ocidente, nos anos oitenta. Advogado com poderes para requisitar avião para conduzi-lo a qualquer cidade de Minas Gerais, onde os interesses do Partido estivessem em jogo. A seu convite, estive com ele em Capelinha/MG, naqueles tempos idos, para suspender a posse de um Prefeito por decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Passados já alguns anos de seu falecimento, sinto a obrigação de desmistificar uma vida, que poderia ter sido grandiosa, mas que foi carente dos condimentos necessários à guarida da história. Orador brilhante e destemido, com voz tonitruante, fez figura no Tribunal de Júri, porém sem muito sucesso na absolvição de seus clientes. Discursava para impressionar, não para absolver. Detentor de uma mente privilegiada, ele decorou, quando aluno da Faculdade de Direito, o Código Civil. Utilizava-se, com naturalidade e corriqueiramente, de intertextualidades em suas petições forenses e nos diálogos do dia-a-dia. Impressionou pessoas e fez admiradores. Brilhou como um meteoro. Por carência de ética profissional, a sua vida e o seu nome resultaram em nada. Nada ficou para a posteridade. Logo após o seu falecimento, escrevi e publiquei um artigo, plagiando Castro Alves: “Há de gemer por ele o gaturamo”, que relembro, esperando que sirva de exemplo aos novos bacharéis, que a cada semestre se integram à classe dos advogados. Ele faleceu sozinho, em um quarto qualquer, de uma casa qualquer, de uma rua qualquer, em Belo Horizonte. Faleceu sem a assistência de um amigo, de um parente, de uma mulher. Separado da esposa e dos filhos, vivia só. Nos dias finais de sua vida, desprovido de afetos pessoais, amargurado, não se maldizia do destino, embora vivesse recolhido dentro de uma roldana de magoas e dissabores. Em seu fadário, a melancolia entremeada de amarguras como feridas abertas eram suas companheiras. A vida não lhe foi amena. No silêncio das noites, no idear da imaginação dos tempos vividos, nos últimos anos de sua vida esteve acorrentado como Prometeu à montanha de suas desilusões. Faleceu ainda novo, absolutamente só. Em um cemitério qualquer, em Belo Horizonte, dorme ele o sono da eternidade. Piedosas e anônimas beatas haverão de orar por ele, ao pé da cruz abandonada que identifica a presença de seu sepultado corpo. Ele não estará só. Esta realidade da cruz abandonada fez-me lembrar a poesia de Castro Alves: “O gaturamo / Geme, por ele, à tarde, no sertão”. O bacharel de invejável cultura, leitor assíduo dos clássicos, diplomado pela UFMG, deixou-se suplantar pelo homem sem escrúpulos profissionais. E o homem comum, que nele existia, foi capaz de destruir o advogado. Coisas da vida. No silêncio de sua sepultura ele descansa sem a presença de amigos e parentes, dormindo em seu leito de desventuras, que a vida dentre as selvas do asfalto lhe compôs. Ali, há de gemer por ele o passeriforme gaturamo.

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