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Mensagem: Voto vinculado e a avalanche Tancredo Nas eleições de 1982, que elegeriam governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores, o governo militar caiu na besteira de criar a vinculação dos votos, acreditando que assim ajudaria os candidatos do partido do governo, o PDS. No que consistia esta vinculação? Quem votasse num partido, por exemplo, para governador, teria que votar em candidatos do mesmo partido em todos os outros níveis. É bom lembrar que era a primeira vez que o eleitor brasileiro iria votar diretamente para eleger o governador de seu estado, direito que perdera a partir do golpe militar de 1964. Na verdade, as eleições de 1966 para governador ainda foram diretas. Como o governo militar teve seus candidatos derrotados em vários estados, acabou com a eleição direta também para escolha dos governadores, que passaram a ser nomeados. Em Minas Gerais, o último governador nomeado foi o deputado federal Francelino Pereira, na época presidente nacional da Arena, o partido do governo militar. Antes dele, foram governadores nomeados em Minas Rondon Pacheco e Aureliano Chaves. Francelino era deputado eleito com ampla votação no norte de Minas e sua nomeação acabou sendo uma vitória para a região. Tão logo assumiu o governo, Francelino convidou Toninho Rebello, prefeito de Montes Claros, para um encontro no Palácio da Liberdade. Na visita, o governador pediu a Toninho que indicasse um nome para o secretariado que estava sendo formado. Toninho na hora teve um lampejo, sei lá, uma intuição, como contaria mais tarde para vários amigos. Em vez de indicar um nome para secretário, disse ao governador que preferia indicar o diretor geral do DER e o superintendente regional da Sudenor. Francelino aceitou na hora, pois ficava assim com uma secretaria livre para negociar com outras regiões. Os nomes indicados foram o do engenheiro Carlos Alberto Salgado para a direção geral do DER e do economista Fábio Borém Pimenta para a Sudenor. Salgado havia sido chefe do DER em Montes Claros e, portanto, tinha muitas ligações com a cidade. Toninho o conhecia bem e sabia que ele poderia ajudar muito no programa de obras da prefeitura. Como de fato ajudou. Na sua gestão, o DER construiu o Anel Rodoviário ligando as BRs 135 e 365. Vários convênios foram firmados com a prefeitura, para fornecimento de material para o asfaltamento das ruas, o que gerou uma economia muito grande para o município. A Sudenor era a superintendência que fazia a ligação do estado com a Sudene. Todos os interesses da região junto à autarquia federal passavam pela Sudenor. Com um montes-clarense na direção da entidade, a região passou a agilizar seus projetos em Recife e todos os meses diversos empreendimentos eram aprovados principalmente para Montes Claros. Através de gestões da Sudenor, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste financiou vários projetos de telecomunicações e de energia do norte de Minas. Tendo nas mãos o DER e a Sudenor, o norte de Minas ganhou muito mais do se tivesse tido um secretário de estado, que muitas vezes não pode privilegiar uma determinada região, pois sofre pressão dos deputados de todo o estado. Assim a decisão de Toninho, de trocar uma secretaria por dois órgãos de segundo escalão, acabou beneficiando Montes Claros e a região muito mais. Intuição, sabedoria, golpe de mestre, nem Toninho nunca soube explicar direito. O que ele sempre soube é que sua administração, e, consequentemente, Montes Claros, ganhou muito com a indicação de Salgado e de Pimenta. Mas na verdade, não era este o tema que iríamos abordar. Como dissemos no início, em 1982 o país teria pela primeira vez, depois de muitos anos, eleição direta para governador. E com voto vinculado. E para azar do partido do governo, o PDS, o candidato da oposição em Minas, pelo PMDB, era Tancredo Neves, o grande líder político da oposição ao governo militar, junto com Ulisses Guimarães. Tadeu Leite, que era vereador em Montes Claros, e com um programa de rádio muito ouvido pela população dos bairros,; vislumbrou o que todo mundo previa: Tancredo iria promover um massacre em Minas. E como o voto era vinculado, levaria com ele todos os candidatos do PMDB, em todos os níveis. Para enfrentar Tancredo, o PDS escolheu o ex-ministro Eliseu Resende, que seria até um candidato forte em outras circunstâncias. Mas não contra Tancredo. Como se previa, foi um massacre não apenas em Minas, mas em todo o Brasil. O PMDB elegeu 23 governadores. Em Montes Claros, mesmo tendo feito a maior administração de toda a história do município, Toninho não conseguiu eleger seu sucessor, o vice-prefeito Crisantino Borém. Na avalanche provocada por Tancredo, o PMDB elegeu Tadeu como prefeito, José da Conceição a deputado estadual (25 mil votos em Montes Claros) e 12 dos 17 vereadores à Câmara Municipal. De quebra, elegeu ainda o deputado federal Manoel Costa, um ilustre desconhecido que Tadeu apoiou (e que financiou sua campanha). Costa teve cerca de 22 mil votos só em Montes Claros. Com isso, quase derrotou o deputado Humberto Souto para a Câmara Federal, o que seria outra derrota terrível para Toninho, pois Humberto era seu amigo pessoal e um dos baluartes de sua administração, conseguindo liberar tudo e mais alguma coisa em Brasília para ajudar o desenvolvimento de Montes Claros. O drama que Toninho viveu com a provável derrota de Humberto Souto é o tema da nossa próxima crônica. Mas o verdadeiro terremoto que Tancredo Neves provocou em todo o estado, inclusive em Montes Claros, na garupa do voto vinculado, tinha que ser relembrado, até para justificar a derrota que Toninho sofreu em sua sucessão, mesmo depois de uma administração fora de série. (Extraído do livro ´Toninho Rebello, o Homem e o Político´, de Ivana Rebello e Jorge Silveira, lançado em Montes Claros na noite de 25 de fevereiro)
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