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Mensagem: BRASIL ARGENTINA (I) Trinta e dois passageiros dos sete aos setenta e sete anos, e mais o guia e dois motoristas, no Ônibus FABIANTUR, rumo a Buenos Aires. Apenas quatro casadas levavam os respectivos maridos. Oito estavam sós como as solteiras e as viúvas, ao todo treze. As quatro crianças completavam o pequeno mundo, dentro do carro, que duraria quinze dias. Comunidade casual, de alguns conhecidos e outros desconhecidos, mas ligados pelo mesmo objetivo, prontos a se auxiliarem, a repartir a alegria e a tristeza. Partida às dezesseis horas, com programa de televisão a bordo. Passou pelas ruas, pelos subúrbios, ganhou a estrada. A televisão deixou de funcionar, ficando só o enfeite, pelo resto da viagem. Chegou logo a noite. Veio o sono. Sono de pedra, que nem me deixou ver a cidade de São Paulo, atravessada de ponta a ponta. Pelo amanhecer é que pude apreciar as terras do decantado Estado, o ´El Dorado´ dos nordestinos; corridos da seca. Terras iguais às do sul de Minas que são mais férteis do que as do Norte só porque recebem chuva. O ônibus consumia a estrada de pouco movimento. Árvores, campos, casas, pontes, abismos. A vista descansa no verde. Céu muito azul, sol quente, calor, calor. Paradas nos restaurantes. Surgem os pinheirais do Paraná e as casas de madeira. Umas pintadas, apodrecendo pela falta de tinta. Casas de pobres. As orquídeas enfeitam umas e outras. O verde varia de tom, com as áreas extensas cultivadas. Cenas consecutivas na limitada tela do pára-brisa. Um êxtase novo para o viajante do Polígono das Secas. Curitiba é o primeiro ponto de pouso, depois de quinze horas de viagem, que deveriam ter sido dezoito, não fosse o bom tempo e a perícia dos motoristas. Hospedagem no Hotel Guaíra, na Praça Rui Barbosa, movimentada, arborizada. A Empresa não admite quarto individual e formam-se grupos de dois ou três. Lembrando Belo Horizonte, com a diferença de que é mais plana, mais arborizada e mais limpa Curitiba merece o apelido de ´Cidade Sorriso´. Em pleno centro da cidade uma grande área verde, o Passeio Público, praças ajardinadas, repuxos e ruas floridas dão a Curitiba um encanto peculiar. Parece mesmo que sorri limpa e refrescante. A Rua das Flores, nome popular da Rua XV de Novembro, é reservada a pedestres. Grandes bacias de madeira, cheias de vasos floridos, enfeitam a rua ao lado das cabines públicas de telefones, de plástico roxo, e das luminárias simplesmente lindas. Mesas de bar se espalham sob as árvores, onde um tipo diferente de brasileiro - mais forte, claro e mais bonito diverte calmamente. Vitrines artisticamente decoradas mostram a indústria brasileira em tecidos e confecções, que convidam às compras pela beleza e pelo bom gosto. No final da rua uma exposição de flores naturais e variadas completa o encanto do logradouro. Já estamos na Praça Generoso Marques, onde fica o Museu Paranaense, com um acervo histórico de peças, livros e obras de arte. Pena o tempo ser curto para se ver tanta coisa. Em outra praça, de que não me lembro o nome, um relógio de flores que marca as horas sem interrupção é o monumento do Governo Municipal ao funcionário público, reunindo gratidão e embelezamento urbanístico. Na falta de um guia fomos rodar de táxi pelas ruas e bairros residenciais, tendo Heloísa e Rodrigo como companheiros. Rebouças é o mais chique. As casas, na maioria de estilo normando, os jardins floridos, pinheiros e orquídeas tornando-os mais belos, os gradis baixos, provando que não há necessidade de se esconder de invasores, fazem dos bairros residenciais de Curitiba uma festa para os olhos ávidos de novidades. À noite, o primeiro jantar oferecido pelo FABIANTUR, na Churrascaria Pinheirão, situada no Bairro de Santa Felicidade, onde os italianos imigrantes começaram a construir a sua ´Itália´. Diva Toloso, o guia da excursão, explicou a razão do nome. Dona Felicidade, italiana rica e sem orgulho, destacou-se na caridade e amizade a todos os habitantes do bairro, pobres e ricos. Espécie de anjo bom, que ficou para sempre lembrado. O jantar foi o início da aproximação maior entre os excursionistas. Lúcia Stela completava mais um ano de vida, que foi bem comemorado. E lembramo-nos de Fernando Pessoa: ´O florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos... As palavras de episódio trocadas Com o viajante episódico Na episódica viagem... Grandes mágoas de todas as coisas serem bocados Caminho sem fim...´ No dia seguinte partimos para Porto Alegre.
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