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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 19 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Toninho mais na intimidade Poucas vezes eu estive a sós com Toninho, enquanto ele era prefeito. Em seu primeiro mandato, eu frequentava muito a prefeitura, entrava para o gabinete (quando ele não estava em reunião privada com algum secretário ou autoridade), mas em raríssimas oportunidades o encontrava sozinho. Geralmente, o gabinete estava sempre cheio. Além de Guarinello, Afonso (Prates) era figura sempre constante, na parte da tarde, pois de manhã não era de acordar cedo. Toninho gostava muito de conversar com Afonso, que era o homem das ideias luminosas, algumas extravagantes. Quando Afonso sumia, Toninho mandava chamá-lo - volta e meia ficava sabendo que ele estava no Automóvel Clube, bebericando um bom uísque. Eu ficava tentando conversar com Toninho, querendo saber se tinha alguma notícia, mas não era fácil. Ele nunca encontrava tempo. Na maioria das vezes, eu saía do gabinete sem conversar com Toninho. Garimpava as notícias com Guarinello ou com Geraldo Maia. Eles me diziam que Toninho me achava muito menino (eu tinha 23 anos), não confiava que eu reproduziria a noticia de forma correta. No segundo mandato, até por ter enchido muito em sua primeira gestão, Toninho me dava mais atenção. Mas aí eu não tinha tanto tempo para ir ao seu gabinete, pois já trabalhava na Codevasf e o expediente lá era apertado - eu era secretário executivo do diretor Roberto Amaral, exigente como ele só. Roberto em certos pontos era muito parecido com Toninho, trabalhador em excesso e perfeccionista em tudo que pretendia realizar. Eu costumava me encontrar muito com Toninho após o expediente, lá pelas sete horas da noite, em frente à prefeitura. Isso quando ele não ficava preso até mais tarde em alguma reunião. Algumas vezes a gente ia para a Cristal, para descontrair tomando uma cachacinha com coca-cola, sua bebida preferida. Sentávamos bem lá no fundo, para tentar ser pouco incomodados, o que na verdade era quase impossível. Todo mundo que via Toninho encostava para cumprimentá-lo. Alguns, quando mais amigos, sentavam e prolongavam o papo. Apesar de aparentemente carrancudo, Toninho era muito accessível e extremamente cordial com todos. Ele só era meio bruto (no bom sentido da palavra), casca-grossa, com aquelas pessoas mais próximas. Comigo mesmo, vivia me xingando, detestava ser entrevistado. Tanto que nestas nossas saídas, tudo que ele me falava, fazia questão de deixar claro: ´não é para ser publicado. Não é nenhuma notícia´. Quando eu publicava alguma coisa que ele não gostava, a bronca era certa. Muitas vezes, nestes bate-papos descontraídos, Toninho deixava transparecer qualidades que geralmente se escondiam detrás das feições muito sérias, carrancudas mesmo. Sua educação tinha sido muito rígida (normal naquela época) e esta rigidez transparecia em seu semblante. Por isso, não raras vezes ele amedrontava as pessoas. Quem não o conhecia bem, geralmente tinha uma impressão errada dele. No fundo, ele era um homem bom, de coração mole, ainda que aparentasse - e geralmente fazia questão de aparentar - ser muito durão. Ele era sim muito exigente, em tudo, principalmente nas questões de princípios morais e éticos, dos quais não abria mão em nenhuma hipótese. No fundo, era um baita ser humano. Mas era muito cabeça-dura. Difícil de se deixar convencer sobre qualquer assunto, quando tinha pensamento diferente. Muitas vezes eu morria de rir, intimamente, quando escutava ele discutindo com o deputado Humberto Souto, outro que costuma ser o dono da verdade absoluta. Quando os dois tinham pontos de vista diferentes, não havia acordo. Mas Toninho tinha verdadeira adoração por Humberto, que ele considerava o paradigma do bom político. Humberto soube retribuir esta admiração: ajudou demais a administração de Toninho em Brasília, de todas as formas que pôde. Muitos dos projetos aprovados no Programa Cidades de Porte Médio tiveram o dedo de Humberto nos ministérios. Por isso torci tanto para Humberto quando ele se candidatou a prefeito recentemente. Se eleito, provavelmente seria um administrador quase tão bom quanto Toninho. Montes Claros perdeu muito ao não elegê-lo. Muito rico, Toninho dava pouco valor ao dinheiro. Não no sentido de que achasse normal esbanjar. Ao contrário, era contra qualquer tipo de esbanjamento. Esbanjar dinheiro público então, nem pensar. Rico, ele era um homem simples. Vestia-se sempre com aquelas calças folgadonas, que o deixavam mais gordo do que realmente era, camisa de algodão sempre para fora da calça, sapatos mal engraxados. No seu primeiro mandato, na década de 60, rodava num fusquinha verde, sempre por lavar, mesmo podendo ter um carrão da época (Osmane Barbosa tinha um Itamarati). No segundo mandato, já na década de 70, subiu um pouco o padrão: rodava num corcel marrom. Mesmo a serviço, andava no próprio carro, com gasolina por sua conta. Nas solenidades oficiais, usava um gravata apertando o gogó. Quem não o conhecesse, nunca imaginaria que aquele era o prefeito de Montes Claros. Parecia mais um rústico fazendeiro, o que realmente era. Por causa de Toninho, por tê-lo conhecido tanto como pessoa e principalmente como administrador público, talvez por isso eu tenha sido sempre tão crítico com os prefeitos que vieram depois. Será que seria exigir demais de todos eles seriedade absoluta com os recursos públicos? Será que seria exigir demais uma fiscalização intensa das obras, para que se tivesse qualidade nos serviços? Será que desejar que todo prefeito tivesse um planejamento, que pontuasse as obras mais necessárias à cidade, seria exigir demais?Desejar que o prefeito não permitisse nunca que a politicagem interferisse na administração, será que é exigir demais? Exigir que o amor a Montes Claros se sobrepusesse aos interesses pessoais, é excesso de exigência? Toninho sempre teve tudo isso: respeito absoluto ao dinheiro público, fiscalização severa com a qualidade das obras, planejamento de tudo o que seria feito e do qual não se desviava, nunca permitindo que interesses políticos interferissem na administração. E seu amor por Montes Claros sempre prevaleceu em todas as suas decisões. E para que estes objetivos fossem possíveis e religiosamente cumpridos, se cercou sempre de bons assessores, pessoas de confiança e todas elas com o mesmo espírito público. Quando se junta tudo isso, é difícil dar errado. (Extraído do livro ´Toninho Rebello, o Homem e o Político´, de Ivana Rebello e Jorge Silveira, lançado em Montes Claros na noite de 25 de fevereiro)

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