Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 19 de novembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: O OVO & SUAS NUANCES Há pouco mais de 20 anos, curti nostálgicos e consecutivos bate-papos (a maioria nos bares do Mercado Central) aqui em Belo Horizonte, com um conterrâneo do meu pai do Sul de Minas. Ele contava (e eu adorava saber) com riqueza de detalhes, passagens inesquecíveis em Boa Esperança, onde até chegamos a morar um ano no início da década de 50 ,antes de retornarmos a M.Claros, após um tempo na capital do estado. Além de inesquecíveis lembranças da família em remotas eras, fazia questão de me botar (sem trocadilho e com incrível exatidão), em dia com a atualidade e real situação, sabem do quê? Do ovo de galinha! Vejam só. Gastronômica e historicamente falando, assunto que ele adorava discorrer com ares professorais. Era quando, então, diagnosticava, com detalhes e entusiasmo, a situação mundial do ovo: se aquele natural produto ( exatamente naquela hora)estava fazendo bem ou mal à saúde . Quase que só tínhamos isso em comum, mas eu deveras apreciava a repetida e inusitada prosa (o velho amigo era engraçado e espirituoso), em meio, lógico, a ter uma memória de elefante ao relatar incríveis casos de parte da nossa infância. E se, ocasionalmente, encontrávamo-nos em outros lugares, restritos apenas a mero contato visual, à distancia ou mesmo tendo algo ou alguém presente atrapalhando a prosa , de imediato, dava-me um sinal de positivo ou negativo com o polegar. Só eu sabia o que era. E ría sozinho. Se houvesse tempo e lugar para uma conversa (vez por outra até regada a “biritas e acepipes” (como ele dizia), logo vinha a história: -Menino, “tou” comendo, atualmente, uns dois ou três ovos todas as manhãs, pra descontar o tempo perdido. Lá em casa minha mulher me proibiu até de comprar ( reclamava). - - -Quando colocaram o ovo na berlinda condenando-o ao ostracismo, como alimento danoso e prejudicial à saúde. Ou, então, quando se zangava com os preços em alta (principalmente na Quaresma), revelava o oposto: - Agora sou eu é que não como mais aquela disgrama! De jeito nenhum: nem frito, nem cozido. Puro colesterol. Vi numa revista sueca o estrago que ele faz à saúde. - Mas estou sentindo uma falta! E era assim, de tempos em tempos, o ovo virava mocinho ou o pior dos vilões, dependendo das especulações e interesses da mídia , ou de seu estado de humor , dependente, quase sempre, dos altos e baixos da economia local. E logo vinha um único tema diferente nas conversas. - Mas uma “cachacinha”? (Ele mesmo enfatizava!) – Essa ninguém nos proíbe, né? E, completava, perguntando e respondendo de imediato(com água na boca) e fazendo um leve brinde: - Gosto “ mutcho”! Assim, como se fosse noutra língua. - E dava um suspiro de alegria:- Ai! Fiquei sabendo, lamentavelmente, que veio a falecer, na praia, onde aos 75 anos escolheu morar e aproveitar um final de vida feliz nas delícias do sol e mar. Chegou até aos 84. “De causas naturais”, como a classe médica antiga (e amiga) colocava nos atestados de óbito, nos botecos tradicionais ,quando alguém, conhecido e habitual cliente, sucumbia aos males do “figueiredo” ou similar . A família ficava satisfeita, o médico era cultuado, continuava prestigiado por todos e o assunto ficava mineiramente encoberto ao olhar severo e crítico da sociedade em geral. Sumia-se com a incômoda verdade, a bem da memória do falecido. Mas o ovo só lhe fez bem, disseram. Ovos quentes de manhã (caipira, preferencialmente) e talvez, até em outras horas menos votadas(caso tenha vontade) , sem ligar para as pragas ocasionais da imprensa e beatos olhares críticos. Sempre. Aproveito, confirmo e devo até dizer: se ainda tem uma coisa boa (e naturalmente saudável) neste atribulado mundo, é o milenar e saboroso ovo de galinha. De pata, não! Tem gosto esquisito e amargo, apesar de ter quem coma... Que seja cozido, frito, mexido, um sofisticado e afrancesado poché ou mesmo transformado em deliciosas omeletes com recheios mil: de queijo, espinafre ou o escambal , como se diz. Uma verdadeira iguaria l Os ricos comem. Embora escondido (nunca dizem que gostam de ovo, pela falta de sofisticação). E os pobres se regalam. Flavio Pinto o-o-o

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima