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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 20 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A LOUCURA DA LIBERDADE * Marcelo Eduardo Freitas A história da escravidão nos Estados Unidos inicia-se no século XVII. As práticas utilizadas eram bastante similares àquelas adotadas pelos espanhóis e portugueses em colônias na América Latina. Em 1808, quando o Congresso americano proibiu oficialmente a importação de escravos, não se imaginava que as divergências entre o Norte industrializado e o Sul agrícola fossem se agravar tanto, a ponto de culminar numa guerra civil. A escravidão, assim, foi o estopim do conflito. Suas causas, no entanto, foram um somatório de fatores socioeconômicos e político-culturais. A diferença entre nortistas e sulistas teve origem no processo de desenvolvimento de cada uma destas regiões. Enquanto o Sul prosperava à custa do trabalho escravo e da exportação de matéria-prima para a Europa, o Norte privilegiou o trabalho assalariado e a articulação de um poderoso comércio. Historicamente, a cor da pele influenciou fortemente a formação da cultura e dos valores norte-americanos. No ano de 1840, em Washington, capital dos EUA, foi realizado um censo, considerado oficial, a fim de medir a demência dos negros daquele país. De acordo com o censo, havia nove vezes mais loucos entre os negros livres que entre os negros ainda considerados escravos. O Norte, assim, era considerado um vasto manicômio. Quanto mais ao Norte, pior a coisa ia ficando. Lado outro, do Norte para o Sul, a maluquice ia se transformando em discernimento e sensatez. Entre os escravos que trabalhavam nas prósperas plantações de algodão, tabaco e arroz a loucura praticamente não existia! O censo realizado, deste modo, confirmava a certeza dos senhores da época: a escravidão, excelente remédio, desenvolvia, entre os negros (obviamente), o equilíbrio moral e a sensatez. A liberdade, não poderia ser diferente, gerava cada vez mais pessoas doidas, insanas, malucas, contestadoras. Em vinte e cinco cidades do Norte não havia sido encontrado um só negro lúcido. Em trinta e nove cidades de Ohio, hoje um dos principais pólos industriais do país, e vinte cidades do Estado de Nova York (que não deve ser confundido com a cidade de mesmo nome, localizada ao sul do Estado), os negros loucos somavam mais que todos os demais negros. O censo parecia não ser digno de fé! Contudo, continuou sendo a verdade oficial durante um quarto de século, culminando, em 1° de janeiro de 1863, com a Proclamação de Emancipação, entabulada por Abraham Lincoln, décimo sexto presidente dos EUA, grande artífice da outorga de liberdade àqueles que assim deveriam ter nascidos. Lincoln Libertou os escravos, ganhou a guerra e perdeu a vida! Foi atingido na cabeça por um disparo dado à queima roupa. Uma peça no Teatro Ford, em Washington, foi o palco para que o ator John Wilkes Booth, na noite de 15 de abril de 1865, inconformado com a derrota na guerra civil, consumasse o ato extremo. Na defesa da mesma causa, em 04 de abril de 1968, Martin Luther King, um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e no mundo, também sucumbiu. Foi assassinado com um tiro na sacada de um hotel em Memphis. É de Luther King a frase que marcou a lendária marcha pelos direitos civis, rumo a Washington, em 1963: ´Não haverá tranquilidade nem sossego na América enquanto o negro não tiver garantidos os seus direitos de cidadão… Enquanto não chegar o radiante dia da justiça… A luta dos negros por liberdade e igualdade de direitos ainda está longe do fim´. As considerações acima, sem olvidar de tantos outros exemplos, servem de base para podermos afirmar, com precisão, que a liberdade apregoada aos quatro cantos do planeta custou caro a muitos daqueles que nos antecederam. No entanto, ainda nos encontramos em um processo de consolidação de direitos e garantias. No Brasil, ainda não ostentamos plena liberdade de opinião, palavras, votos, crença religiosa, convicção filosófica ou política. Precisamos, portanto, fazer um pouco mais. Ainda que se pague um alto preço. É, portanto, no inconformismo, na loucura, que conseguimos alcançar o que um dia se julgou impossível. Fernando Pessoa afirmava que “a loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio.” Como os negros do Norte, que tenhamos fé! Ainda que por gerações sejamos taxados de insanos. Liberdade, um dia, foi coisa de louco! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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