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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 19 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A mulher e os seus medos * Marcelo Eduardo Freitas Tenho uma filha feminista e me orgulho disso! Contudo, na busca por construir condições de igualdade entre os gêneros, ela defende algumas ideias que, não raras vezes, chega a assustar. Uma concepção moderna, madura, lastreada nos ideais sócio-políticos do século XIX, forte até demais para uma adolescente “meio criança, meio mulher”. Hoje, na busca por escolher o tema dessa peroração, lembrei-me de uma de nossas conversas recentes, ocasião em que tratamos sobre o fato de ser mulher nesses tumultuados dias que vivemos. Achei interessante aquela menina, travestida de mulher, me revelar pontos intrigantes que às vezes passa desapercebido. Traduzindo para uma linguagem simples, são medos e receios que qualquer mulher carrega. Quer um exemplo? Quando sozinha, andando na rua, se a mulher olhar para trás e observar a presença de um homem, ela fica receosa, muitas apressam o passo e ficam com medo. Mas se aquela pessoa estranha for outra mulher, o sentimento é de conforto, de alívio. Esse relato primário me deixou pensativo, até porque na semana que se passou uma das pautas dos telejornais foi justamente o feminicídio e os seus assustadores números em dias atuais. Dados chocantes de uma realidade que, ao invés de acabar, só aumenta! Mas como evitar isso? O que está acontecendo para que a violência contra a mulher se banalize dessa forma? São questões que precisam ser discutidas em todos os ambientes coletivos, com particular ênfase para as famílias. E as pesquisas não param por aí... As classes mais abastadas têm um “índice inferior” de violência contra a mulher. Não pelo elevado nível de instrução e/ou educação que se diz ter. Mas em virtude do receio daquela que sofre a agressão de ver-se fora das páginas de colunas sociais, numa migração considerada aviltante para as manchetes policiais. Na conversa entre pai e filha, o que mais causa estranheza é a maneira como se judicializa uma questão social que deveria ser encarada de forma direta, como política efetivamente pública. O medo, caro leitor, é intrínseco ao sexo feminino! (In) justamente porque nossa sociedade realmente é machista! Criamos os nossos filhos homens com maior liberdade de ação. As meninas conquistam espaço meio que por “garimpagem”. Freqüentemente são tolhidas (na maioria das vezes pela mãe, pela avó) pelas mulheres mais velhas que se viram na mesma situação e receiam pelas conquistas das novas gerações. E ainda assim acreditamos na evolução da espécie... A esta altura, não nos custa indagar: o que leva um homem a seguir uma mulher, a ter o sentimento de posse sobre ela, a impedi-la de “viver a vida”, de decidir sobre os rumos a seguir, de crescer conforme sua conveniência? Onde vai parar essa concepção de que a obrigação de limpar, lavar, passar e cozinhar é sempre feminina? Por que dar à criança do sexo feminino uma vassourinha de brinquedo, uma máquina de lavar roupas, um fogãozinho para fazer comidinha? Em pleno século XXI, será essa a melhor opção? O cantor Erasmo Carlo, em homenagem às mulheres, entonava que “dizem que a mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda, Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com ela...”. E ele tem razão! Porque quando penso nas mulheres que conheço, sempre me vem à cabeça muitas que com pequenos atos diários de amor feminino mudaram o mundo. Reflito sobre minha formação e o poder de minha mãe para me moldar no homem que hoje sou. Na sua força, no seu carinho, na sua delicadeza, em seu amor. Vejo minha filha e, em tempos de “modernidade líquida”, enxergo um futuro dinâmico, íntegro, firme, mas envolvido em uma delicadeza e uma capacidade de cativar absurdamente inerentes ao gênero feminino. E nesse olhar paradoxal, “para trás e para frente”, a beleza feminina encanta! Que me perdoem os homens, mas a grandeza das mulheres é sublime! Volto, então, aos temores femininos, que desmancham esse meu pensar poético, propondo uma profunda reflexão sobre a realidade da violência e amedrontamento por que passam as mulheres. Que nesse florescer de setembro, que trás consigo a beleza das flores e da primavera, possamos refletir de maneira franca e crítica sobre as mulheres à nossa volta, particularmente sobre seus anseios e inquietações. Como as tratamos, o que queremos e o que faz bem a elas? De uma coisa tenho certeza, além da morte: mulher é esteio! Como ensina a melodia que faz bem aos ouvidos: “Mulher, mulher, na escola em que você foi ensinada, jamais tirei um dez! Sou forte, mas não chego aos seus pés!” Toda honra e toda a glória àquela que, com medo, é o cerne da vida! (*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia

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