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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Hoje, primeiro dia do mês de outubro, comemora-se o Dia do Idoso. Embora nós idosos não tenhamos muito o que festejar nos tempos atuais, transcrevo aqui, como forma de abraço a todos que atingiram os sessenta anos, um relato contido no meu livro de memórias, recentemente publicado pela Editora da Unimontes: Velho?!... Nem tanto! Antes de chegar aos sessenta anos, me irritava quando, nas extensas filas dos caixas de bancos ou de lotéricas, via chegar um idoso ainda cheio de vigor com contas para pagar ou jogos para fazer. Clientes de atendimento prioritário por lei, esses senhores, quase sempre de chinelão no pé, óculos escuros, bermudas coloridas e camisetas típicas de verão, sem nenhum constrangimento e na maior “cara de pau”, furavam a fila e eram atendidos. Pronta e gentilmente atendidos, diga-se de passagem, muito antes dos demais que, sabe-se lá há quanto tempo, angustiados pela demora e com muitos afazeres, impacientemente esperavam por isso. Pensava comigo ou comentava com alguém da fila: – Como pode alguém que, ao que parece, tem o resto do dia livre, chega e, sem mais nem menos, é atendido antes de todos nós, com tanta coisa ainda por fazer no dia? – Fazer o que? É a lei! – sempre me respondiam. – Sim, é a lei! Mas ela deveria ser aplicada apenas aos doentes, deficientes físicos, pessoas com pernas quebradas ou mulheres em adiantada gravidez ou com crianças no colo. Um velho forte desses, esbanjando saúde, sem nada o que fazer, por que não esperar ser atendido como os outros? O tempo passou e num belo dia do mês de janeiro completei sessenta anos. Embora já pudesse usufruir do mesmo direito que eu tanto combatera, a princípio relutei em fazê-lo. Primeiro por me sentir envergonhado e, depois, por proibição de minha esposa que, quando estava comigo, era categórica: – Deixe de bobagem! Você não precisa disso! Você é muito novo ainda! Um dia, quando precisei pagar na boca do caixa um boleto referente à compra de uma peça para meu Jeep que fizera pela Internet, me dirigi a uma agência do Banco do Brasil. Na porta giratória, uma mocinha distribuía as senhas para o atendimento. Receoso de encontrar uma fila quilométrica, um pouco constrangido, embora já soubesse a resposta, perguntei à moça: – O que vocês chamam de idoso no atendimento prioritário? – Pessoas com mais de sessenta anos – respondeu. – É o meu caso! É a primeira vez que farei uso da fila dos velhos! – falei com um sorriso meio sem graça. Após receber da atendente uma senha identificada pela letra P seguida de um número, subi as escadas aliviado por não ter que esperar muito tempo. No andar de cima, três funcionários dos caixas conversavam entre si. Fui imediatamente atendido por um deles. Para minha surpresa, não havia ninguém na fila. Os caixas estavam literalmente vazios. Boleto pago e recibo na mão, desci a escadaria desapontado e pensativo, ainda portando a tal senha que nem sequer me fora exigida. Um constrangimento em vão. Que coisa! Não precisava passar por isso! – pensei comigo. A partir daquele dia, entretanto, perdi completamente a vergonha de entrar na fila dos idosos. Nos bancos, nas lotéricas, nos supermercados, nos embarques para o voo, nos exames laboratoriais, descaradamente, faço uso do atendimento prioritário como de direito. Hoje, chego sorridente e furo a fila, na maior cara de pau. Bom mesmo é ir de traje a rigor, ou seja, óculos escuros, chinelo, bermuda e camiseta com lembrança de alguma praia. Qualquer dias desses, em plena segunda-feira, celular no ouvido, farei isso simulando uma conversa com algum amigo, marcando para daí a meia hora uma cervejinha e uma partida de dominó num boteco próximo. Com certeza receberei de volta as críticas que tanto fiz outrora. Só uma coisa me incomoda nisso tudo. Não gosto daquele velhinho com bengala usado para identificar o atendimento prioritário aos idosos. Aquela figura horrível deveria ser substituída por uma simbologia mais jovial e vigorosa. Velho?!... Nem tanto!

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