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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Nem vencidos ou vencedores Manoel Hygino Exauridos em esperança, decepcionados, postos à prova, os brasileiros se vão daqui em busca de melhor lugar para viver seus sonhos e suas realidades, que não as experimentadas no Brasil. É o que se pode sentir com o livro que Eltânia André, mineira de Cataguases, psicóloga, escritora, residente em Lisboa, vem de editar. O escritor Ronaldo Cagiano, também cá de Minas, considera que o novo livro, “Duelos”, foi escrito sob o ímpeto do assombro, o Brasil gerido pelo horror, crianças mortas por balas perdidas, o povo acuado pela violência das ruas. Andressa Barichello, que é do ramo, Mestre em Direito e Literatura, que igualmente passou a viver em Portugal, faz uma crítica igualmente triste do país que Cabral descobriu do outro lado do Atlântico, sem prever em que daria. Para Andressa, os contos de Eltânia, “todas essas narrativas-retrato resultam num grande álbum: o de uma sociedade na qual a violência é o único elo e que, quando não é explícita, continua a ser o ritmo que pauta a vida ou a mera sobrevivência dos personagens”. Acrescenta: “Muitos desses personagens não são nem bons nem maus, são ao mesmo tempo vítimas e algozes. A conservação desta mistura que não se rende ao maniqueísmo dá o tom da complexidade dos conflitos. Com o tempero da ironia, os contos conduzem à precepção de que a responsabilidade pelo estado de coisas é sustentada por um automatismo com o qual poucos estão dispostos a romper”. A continuação do raciocínio da escritora-mestre é ainda mais dolorosa, seja para quem viva no Brasil ou qualquer país outro: “Os contos de Eltânia falam do humano, da perversidade com que recusamos a realidade e da possibilidade de simbolicamente sobrevivermos ao perverso. Mas esse trabalho que conversa com sentimentos universais não esconde o seu berço; o país ou, ao menos, um certo Brasil que a cada dia apresenta-se mais inviável – embora haja quem insista em querer fazê-lo perdurar. Eltânia André constrói histórias nas quais tanto os oprimidos e excluídos quanto os ricos ou remediados simplesmente não gozam: enquanto para uns tudo é privação, outros são sempre culpados por saberem que enquanto vivem o glamour distrativo das pequenas ostentações a chance de uma sociedade menos desigual míngua pouco a pouco, logo ali, no corpo dos avizinhados, carne da própria carne. Mas se já há pouco ou nada a perder, como compreender que ainda seja preferível a apatia? Como explicar que tantos sejam cúmplices na tarefa de perpetuar a negação da imagem vista no espelho-palavra? A pergunta paira sobre brasileiros de cá e de lá, de todos os cantos do mundo em que ora estejam. Deixa todos com cruéis dúvidas, mesmo nesta hora em que se aguarda posse de novos governantes. Que será do Brasil? A autora é uma antena que capta os sinais mais sutis e seu livro parece carta endereçada, como uma psicografia, porque também os personagens e suas histórias são assombrosamente familiares; comparecem diariamente diante de todos os brasileiros, tornando-se presentes em todos os lares, com suas consequências funestas – mesmo através do noticiário televisivo. Em “Duelos”, os embates se travam no ar e, mais do que isso, quando se percebe, sem grande esforço, que não há vencidos ou vencedores.

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