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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Os cangaços Manoel Hygino Não há o quê e como escolher. Nas cidades e no campo, nas ruas ou nas estradas, perigo à vista. A morte ainda solta, especialmente a tiros. Leio a notícia de minha cidade natal. Um corpo caído na periferia de Montes Claros, relata o telefonema anônimo. Tinha 15 anos, masculino, levou seis tiros, por conta do tráfico. Seu corpo estava abandonado numa rua de bairro. Não é só: ambulância do Samu é levada por ladrão – ou ladrões, quando em atendimento no bairro Monte Carmelo. Os socorristas haviam entrado numa casa para assistir pessoa de 72 anos. Não é brincadeira de mau gosto. Bandidos estão soltos pelo pobre interior de Minas, também no Vale do Jequitinhonha, considerado uma das regiões mais pobres do Brasil. Identifica-se o fenômeno como Novo Cangaço, mas o título não faz jus à própria palavra. Seus atores são imensamente piores do que os de antanho. Não usam garruchas calibres 320 ou 380, ou espingardas polveiras, de encher pela boca, como as da loja de meu avô, para o que tinha autorização especial do Ministério da Guerra. Não se pode enfiar os casos pelo mesmo saco, como li em texto de um certo Manuel que – por sinal – redige muito bem. Não confundir o Novo Cangaço com o lirismo dos personagens de “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa. Em termos, seria a mesma coisa de misturar ao épico mineiro, aclamado mundo afora, os desatinos de Lampião e seu bando, que aterrorizou o Nordeste brasileiro nos anos 30. Há, entre as duas correntes, um fosso imenso, intransponível, imisturáveis que são os valores e motivações que impulsionam as campanhas de cada um, e isto não pode ser ignorado. O lirismo de Guimarães, as justificativas e conclusões dos personagens tão de nós conhecidos, nem de longe podem ser cotejados com a delinquência do crime pelo crime. Há valores e místicas e mistérios e profundidades e sortilégios a dividi-los e separá-los. Guimarães pôs na boca dos seus personagens os preceitos do sertão profundo, que vaga - segue cavalgando - pelos campos sem fim. Poesia e crimes não andam juntos, pertencem a distintas naturezas, mas às vezes grosseiramente podem ser confundidos. Há de tudo, na vida. Por fim, e portanto: os criminosos, entre eles os recentemente mortos pela polícia nada têm em comum com a estirpe de Riobaldos e Diadorins e Joca Ramiros, do Grande Sertão - ou não entenderam nada. Dos Hermógenes, talvez - e não sou especialista. Estes bandoleiros modernos quase sempre vêm de outras regiões que não pertencem ao épico Grande Sertão, notadamente de S. Paulo - como se viu em refregas recentes com a polícia mineira. Os personagens de Guimarães Rosa, muito ao contrário, têm princípios, regras e valores, longamente ajuntados no meio hostil da vida. A Vida. Nada têm do banditismo descrito, e não podem ser comparados. Não fogem por medida de covardia. Cumprem destino. Defendem-se, como regra. Dão combate, na lisura de suas vidas. Resistem. Resistirão sempre num dos livros mais belos do Brasil, à espera de releituras mais altas. O Grande Sertão, enfim compreendido, agradece, e humilde, parte. Não, não é banditismo. É a vida, por ela mesma, como foi servida. E cresceu tanto que virou poesia em prosa. Destino. Poesia, é o que temos. E não sangue da cobiça abjeta. Mundo imisturável, concedam-nos a interpretação, como a mais válida para as ocasiões e circunstâncias.

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