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Mensagem: O povo é que faz a língua Li “O povo é que faz a língua”, de Wanderlino Arruda. A crônica de Arruda é uma aula de linguística. Ele fundamentou-se inicialmente nas alterações masculino/feminino dos sobrenomes (nomes) Christoff/Cristova, que seguem a regra búlgara. Ele aponta mudanças ou afirmações linguísticas, que se fixaram na língua portuguesa, de alta valia para as nossas limitações culturais. No final, ele afirma que “o povo é quem manda” e, em complemento, “o povo é que faz a língua”. Sem discordância, em tese. Todavia, não me contive interiormente. Vejo um sentido dúbio na última afirmação. A língua é o conjunto de regras a que está sujeito um idioma; um sistema de palavras com que se explicam os pensamentos. Ela permite, aos que através dela se manifestam, uma maleabilidade gramatical e fraseológica. O Português é uma língua viva e, se deturpada como o latim vulgar, poderia ter dado origem à língua brasileira, como se pretendeu logo após a Independência. Mas o Português é a nossa língua, o idioma dos países colonizados pelos portugueses, que o Acordo Ortográfico pretende unificar, com prevalência da norma-padrão. Quando nos referimos ao Português, costumamos dizer: “a língua de Camões”; se ao Latim, “a língua de Horácio”. Isto é, a língua culta. A linguagem do povo tende a desfigurar-se como ocorreu com o latim vulgar, que deu origem a vários idiomas. Por esta razão existe a necessidade de um controle, de preservação da estrutura linguística, pena de se transformar, em um país de dimensões continentais como o nosso, em diferentes dialetos regionais. Verdade que a força do uso leva a modificações de vocábulos. Por um processo hipocorístico de simplificação, “vossa mercê” passou a “vosmicê”, “vancê”, chegando a “você” e já caminha para “ocê”. Há quem afirme, porém, que “você” teria vindo do Francês (vous), língua cultural dominante por muito tempo e falada nas altas rodas no tempo do Império. A analogia faz criar novos termos segundo o modelo anterior existente. É próprio de todas as línguas. Aqui sou levado a distinguir língua de linguagem, vendo esta como a expressão do pensamento por meio de palavras, sinais, gestos ou atitudes. Um sentido mais amplo do que a língua. A linguagem popular não pode ser confundida com a língua. Temos que preservar a forma culta, a norma-padrão. Apenas para observar, o Instituto Camões entende que a `”noção de correção está baseada no valor social atribuído às formas linguísticas”. Em uma cidade universitária como Montes Claros, conhecida como terra da cultura, não devemos estar subordinados às mudanças grosseiras impostas à língua pelas classes menos cultas (pelo povo), senão estaremos, em breve, dizendo “nos vai” ou “nos foi” com despreso das flexões verbais, que foi imposto ao povo pelas línguas travadas africanas. Não quero me apresentar, porque não sou, como um purista, ao lado dos “invocados cães-de-fila da gramática”, mas sou levado a reconhecer que a língua, no correr dos anos, sofre mutações que, para serem aceitas, passam pelo crivo dos cultores da língua. No Brasil, da Academia Brasileira de Letras. Nas Instruções baixadas em 1943, a Academia Brasileira de Letras determinou a inclusão no Vocabulário Ortográfico dos brasileirismos, estrangeirismos e neologismos de uso corrente no Brasil, consagrados pelo uso.
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