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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 20 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Um editor como Wander Piroli Alberto Sena Algo que mantinha intrigadas as pessoas nos meios jornalísticos daqueles anos da década de 1970, era o fato de Wander Piroli, jornalista e escritor, autor do livro ‘A Mãe e o Filho da Mãe’ e outros dirigir a Editoria de Polícia do jornal Estado de Minas. De certo as pessoas achavam ser isto muito para uma Editoria de Polícia, ser dirigida por um profissional do nível de Piroli. Ou senão o fato de ser escritor, o lugar dele devesse ser outro, numa editoria compatível com o seu nível intelectual. Quem ficava intrigado com isto mal sabia: Piroli estava na editoria certa. Egresso do bairro Lagoinha, em Belo Horizonte, aquela Lagoinha antiga, onde nas noites se podia ouvir o zunido de navalha cortando os ares boêmios, Piroli conhecia de perto, de vivência, tudo aquilo porque nascera lá no bairro. Foi certamente o estágio de vida na Lagoinha que dera ao Piroli a sensibilidade de quem aprendeu a conhecer a alma humana ao ponto de compreender o outro e lhe dar o real valor, seja quem fosse. Nessa fase da imprensa mineira, a Editoria de Polícia do EM, por causa de Piroli, passou a ser referência e frequentada por personalidades do mundo literário como Oswaldo França Júnior, autor de ‘Jorge, um Brasileiro’ e uma série de outros livros importantes da literatura nacional, como ‘O Passo-Bandeira’, em que ele conta as experiências como piloto da Aeronáutica. Além de França, a Editoria de Polícia era frequentada pelo escritor Luís Vilela, cujo primeiro livro, de contos, é intitulado ‘Tremor de Terra’, de 1967. Desde então nunca mais ele parou de escrever. Outro que estava sempre presente, o escritor Garcia de Paiva, autor de ‘Os Agricultores Arrancam Paralelepípedos’, de 1977. Uma das primeiras recomendações de Piroli era: ‘Busquem sempre os porquês’. Exemplo: o cidadão cometeu algum delito, digamos furto, latrocínio ou assassinato, o repórter não devia ficar limitado ao registro do boletim de ocorrência da polícia, o famoso BO. Era fundamental ir ao local do acontecimento. E essa postura do editor levava muitas vezes os repórteres a chegarem ao local de uma ocorrência antes dos policiais. Nessa época, a Editoria de Polícia deu uma série de prêmios Esso ao Estado de Minas. Só o veterano Fialho Pacheco, ícone da cobertura de polícia de então, ganhou cinco prêmios Esso. Paulo Narciso ganhou dois, um deles, de maior repercussão, foi ‘O Diário de Judith Malina na Prisão’, quando ela e o marido dela, Julian Beck, foram presos em Ouro Preto num flagrante forjado de drogas. Um dos prêmios Esso mais importantes concedidos ao Estado de Minas foi sobre o ‘Caso Jorge Defensor’, um operário que a polícia tornou inválido para o resto da vida. Foi um trabalho de equipe e gerou mais de seis meses de notícias diárias. O ‘Caso Jorge Defensor’ ganhou repercussão internacional. Na ocasião, o Brasil era governado pelo general Ernesto Geisel e Minas por Aureliano Chaves. Geisel prometia abertura ‘lenta, gradual e segura’, e a explosão da violência praticada ganhou conotação política quando o governador visitou o operário no hospital. O caso de certo modo contribuiu para apressar a distensão política. Piroli sempre foi um grande apreciador de cachaça. Ele dizia: ‘Quanto mais bebo melhor fico’. E parecia ficar mesmo porque ninguém o via bêbado, escornado. O álcool certamente tornava as ideias dele mais claras e fluentes. Entre um título e outro, antes e durante o fechamento da edição do dia seguinte, ele, discretamente, tomava um ou outro gole. Claro que na redação todos sabiam disto. Mas não era nada ostensivo. A normalidade na redação não era quebrada nem mesmo pelo ruído ensurdecedor das Remingtons sobre as quais os repórteres trepidavam e contavam aos leitores as ocorrências e as investigações dos casos chegados ao DI, Dops, Secretaria de Segurança e Polícia Federal. Que ninguém espalhe: Piroli tinha um garrafão debaixo da mesa. Além disto, fumava um cigarro atrás do outro. Ele mesmo dizia não ser exemplo para ninguém. Mas mantinha sempre o semblante sóbrio. Quem sabia o que se passava por detrás daqueles olhos verdes era só ele mesmo. Em vida, Piroli já era considerado um dos maiores escritores brasileiros, juntamente com Oswaldo França Júnior, Luís Vilela e Garcia de Paiva. Volta e meia, eles participavam daquela reunião das 14h, quando a editoria se reunia para falar de jornalismo e literatura que os aficionados da página de polícia leriam no dia seguinte. Talvez fosse por isto, e muito mais, que as pessoas ficavam intrigadas sem saber como é que podia a Editoria de Polícia de um vetusto jornal ter um editor como Wander Piroli.

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