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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 18 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Medo de Avião Haroldo Tourinho Filho Adoro aviação. Sobre o assunto, leio tudo que me cai em mãos. Certa ocasião, levei meu pai ao aeroporto da Pampulha. Ia ele para Salvador. Chovia a cântaros. Bacias d`água despejavam-se sobre o carro. Eu estava apreensivo. Vai viajar com esse tempo, pai? Tem medo não? Medo?, respondeu ele, tenho não. Ou cai ou chega. Lógica irrefutável... Deixei-o na área de embarque e fui estacionar o carro. Quando adentrei o saguão do aeroporto, feito pinto molhado, ele já se encontrava no balcão da Varig. Procurei saber qual era o equipamento (é assim que chamam avião) para o voo. Seria um Viscount, ainda bem. Turboélice quadrimotor, igualzinho ao da presidência da República. Dois Samurais - cópia japonesa cuspida e escarrada do Avro inglês - da Vasp haviam caído recentemente e, num deles - conferi o prefixo da aeronave -, quase se fora minha mãe, na rota BHZ/RIO. Se ela embarca uma semana depois, já seria... Eu continuava apreensivo. Parecia que o aguaceiro aumentara de intensidade. Enquanto meu pai aguardava a sua vez na fila, fui ao bar e virei um conhaque. Para baixar a tensão. Em seguida um cafezinho, para disfarçar o bafo. Acendi um Minister - naquela época podia-se fumar em recintos públicos fechados e até mesmo em ônibus, trens e aviões. Ao contrário de meu pai, que só bebia, e moderadamente, em raríssimas ocasiões, tipo Natal, passagem de ano e aniversários em família, eu não deixo escapar uma oportunidade. E, se não houver, crio um pretexto. Avião? Só depois de dois uísques antes e três ou quatro lá dentro. Aprendi, depois de uma turbulência braba na rota Brasília/Belo Horizonte (BSB/BHZ), que o melhor remédio é o gim. Bastam duas doses acima da humanidade, como diria Humphrey Bogart, para se enfrentar qualquer voo. Para um mortal normal, dois gins anestesiam imediata e cmpletamente. Você se sente seguro a ponto de desafiar os céus: Cai, porra, cai! Esse negócio de medo de avião, sei não... Tenho um amigo, o Beto, que mesmo sendo piloto brevetado conheceu a sua fase de pânico. Surtou de repente, como sói acontecer. Cumpria ele a rota SPS/POA com escala em Florianópolis. Desceu da aeronave, na marra, em Floripa, e não houve quem o convencesse a retomar o seu assento. Prosseguiu a viagem em táxi fretado até o destino, Porto Alegre. O meu medo, não sei de onde vem. Não há razão para tal. A bordo, jamais um motor pegou fogo, uma turbina ou asa se soltou, nada, a não ser costumeiras turbulências. Mas continuo fiel ao ritual dos gins, que só bebo antes de encarar a fera, pois é sabido o seu potencial destruidor. 80% dos alcoólatras europeus e americanos são usuários de gim, talvez por desconhecerem a cachaça... Mas pinga e avião definitivamente não combinam, que me desculpem os nacionalistas. Acho até falta de classe. Pode ser que agora, com os aeroportos nacionais tranformados em rodoviárias, na observação de uma socialite paulista indignada com a ascensão econômica da classe C, a coisa mude. Mas continuo na minha e aconselho aos temerosos de viagens aéreas: tomem dois gins antes de embarcar.

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