Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.
Clique aqui para exibir os comentários
Os dados aqui preenchidos serão exibidos. Todos os campos são obrigatórios
Mensagem: Uma cena urbana É março, em pleno verão, ao meio dia . Os transeuntes vagam à procura das balaustradas das casas e dos toldos das lojas , ou qualquer sombra que arrefeça, mesmo que por instantes, o furor canicular. Vejo sair, das dependências da Santa Casa, uma mulher com o filho nos braços. Deve ter pouco mais de 30 anos, e mais ou menos um metro e cinqüenta de altura, e a criança uns quatro ou cinco natalícios. São pobres, sei, como revelam os chinelos de borracha e as vestes estampadas e puídas. Anda rapidamente a mãe, como se aquela criança fosse um complemento de seu corpo e do seu peso, tão agarrados estavam, cingindo ao peito e ombros aquele ser pequeno. O menino que carrega tem os punhos levantados e as mãos fechadas, hígidos, sobre os ombros dela, em clara e transparente anomalia advinda do parto, apodada como paralisia cerebral pela medicina. Sigo-a com os olhos, ou a ambos, mesmo que sejam um só neste desenho de momento, atento ao seu deslocamento pelo centro da cidade, admirado daquela força que só as mães possuem, dessa proeza que só o amor materno é capaz. Coberta de suor , seus passos ligeiros pelas calçadas lembram-me uma estória antiga, dos anos setenta, no século passado, sobre um menino que carregava nos braços um irmão, pouco mais novo que ele, em pleno inverno em Nova York, e que batera à porta onde moravam alguns padres, em busca de ajuda e abrigo. Ao abrir a porta e ver aquelas duas criaturas pequeninas cobertas de neve, perguntou o religioso àquele que carregava, como conseguia levar tanto peso sob seus ombros, respondendo o menino que não levava peso nenhum, mas o seu irmão. Deus meu, amoroso Deus Cristão, a quem me vergo e submeto todos os dias da minha vida, eu sei que a verdadeira força é o amor que pregaste. É ele que remove as montanhas, porque fé sem amor é sino sem badalo, é opacidade e vácuo, é limbo onde jazem as coisas e seres sem alma. Aquela criaturinha frágil e seu rebento , expostos às mesmas leis da gravidade e do calor,jungiam-se naquele abraço amoroso, e se complementavam de tal modo e com tanta intensidade, que era impossível saber quem realmente era carregado, porque o amor verdadeiro apaga essas fronteiras entre doador e donatário. Fisicamente, ambos eram distantes daquela figura da Madona e seu filho ao colo, estampadas nos quadros renascentistas, cobertos pela luz divinal, com a criança rechonchuda e de olhos vivazes, onde a vida se revelava em sua plenitude, com a abundância da saúde somada à alegria materna de ter nos braços o Deus Menino, salvador dos homens, que sabia de destino inigualável. Nada disso animava aquela mulher, certamente, mas somente o amor, na sua forma mais pura, pois não dependente de qualquer esperança e sem nenhuma certeza quanto ao filho que carregava, ao contrário, temerosa de seu futuro sem as rédeas de sua vida, subalterno a terceiros cuidadores, bons e maus. Sei que em mães assim só um medo habita os corações, o de não terem vida longa para cuidarem deles, e por tal se carpem aos pés dos santos e em preces a Deus, na esperança de um milagre impossível. Perdendo-a de vista, mas não em meus pensamentos, imagino que outros filhos à esperam em casa, por isso tem tanta pressa, ou talvez algum marido ciumento, que lhe indagará sobre razões da demora, sem prejuízo de palavras duras. Sei que ela somente se libertará de seu calvário quando chamada por Deus. Então, seu corpo franzino, numa urna pobre e pequenina, será conduzido sem dificuldades para seu último leito, liberto de suas circunstâncias. Mas sua alma enorme, esta sim, demandará uma legião de anjos a conduzi-la, em alegre coro, até o colo do Pai, onde permanecerá, para todo sempre, em descanso, no usufruto daquele mesmo amor que dedicara ao filho neste mundo.
Trocar letrasDigite as letras que aparecem na imagem acima